sexta-feira, junho 19, 2009

Uvas desconhecidas, Vinhos fascinantes


Por Luiz Gastão Bolonhez

M
uita gente está acostumada a conhecer os vinhos pelos nomes de suas uvas. Isso, obviamente, não é um sacrilégio, apesar de ser um pouco de preconceito. Especula-se que todo enófilo que se preze conhece Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Syrah, Malbec, Nebbiolo, Chardonnay, Sauvignon Blanc e até Carménère - que ultimamente ganhou mais exposição no Brasil devido a uma enxurrada de vinhos varietais à base dessa especial cepa francesa, que fez fama no Chile.

Pois bem, muitos estão bitolados em algumas uvas. É lógico que vinhos elaborados a partir das castas citadas acima são, em sua maioria, excepcionais. A partir, por exemplo, da Cabernet Sauvignon e da Pinot Noir, temos os mais badalados, procurados, caros e requisitados vinhos do mundo, principalmente os provenientes da França. A Borgonha, com exclusividade na Pinot Noir em seus tintos, e Bordeaux, com a Cabernet Sauvignon liderando os famosos cortes, são religiões entre os mais apaixonados por grandes vinhos.

Nem tudo que é bom é Cabernet

A inspiração para tal empreitada nasceu em 2008, em um jantar com o Sr. Miguelàngel Cerdá, proprietário de uma bodega Anima Negra, localizada na ilha de Palma de Mallorca, costa mediterrânea na Espanha. Miguelàngel começou apresentando seu branco e, para a surpresa de todos, a uva predominante era chamada de Moll. Vocês já ouviram falar? Pois bem, esse vinho, denominado Quibia 2007, estava excelente. Parou por aí? Não! Os próximos, os tintos, eram todos de castas desconhecidas. E foi o AN 2004, produzido com predominância da cepa Callet, que tirou suspiros de todos. É muito, mas muito difícil alguém ter ouvido falar sobre essa uva. Talvez nem o tenista Rafael Nadal e sua família, oriundos de Mallorca, tenham ciência dela.

Itália, gama sem fim de uvas indígenas

Único país do mundo a produzir vinhos em todas as regiões, a Itália oferece uma infinidade de uvas autóctones que vão de norte a sul, incluindo o arquipélago da Sicília e a ilha da Sardenha. É impressionante como elas são únicas e com tipicidade. Na maioria das vezes, essas castas representam uma região ou uma denominação de origem.

Aqui vale uma dica importante (pois é cada vez mais difícil comprar um Barolo ou um SuperToscano - já que os preços sobem de maneira quase injustificável): é nesse espaço que o enófilo deve penetrar, pois temos vinhos espetaculares fora do eixo Piemonte e Toscana.

Norte da Itália Friuli, Alto Adige, Trentino e Vêneto Moscato Rosa

A Moscato Rosa é uma uva da família da Moscato, somente encontrada no Alto Adige, na Itália, e em algumas regiões da Áustria e Alemanha. Nestes dois últimos países, ela é chamada de Rosenmuskateller. É uma vide com cachos de cor rubi, que pode produzir desde vinhos secos a espumantes e alguns doces - sendo estes últimos os mais diferentes e únicos dentre todos. Seus fermentados são quase sempre perfumados, com muita carga floral e predominância de rosas. São elegantemente doces, porém sem excessos.

Ribolla Gialla

No Friuli, podemos encontrar uma série de castas únicas e escolhemos a branca Ribolla Gialla. Encontrada em plantações nas DOC (Dominazione de Origine Controlatta) de Collio (Goritzia) e Colli Orientali (Udine), bem como logo após a fronteira, já na Eslovênia, onde é chamada de Rebula. Seus vinhos são de uma acidez penetrante, com boa carga mineral (sílex) e leves tons frutados, com destaque para cítricos. Não é um fermentado com nuances doces. É straight to the point. Uma bela experiência para quem aprecia brancos secos e com muita personalidade.

Refosco dal Pedunculo Rosso

Ainda do Friuli, e com boa quantidade de hectares plantados, temos a tinta Refosco dal Pedunculo Rosso, que, como a branca Ribolla, tem alto grau de acidez, mas produz vinhos bem escuros, com taninos muito presentes e nuances verdes (marcante teor herbáceo). Se não colhida com boa maturação, seus taninos são sólidos como rocha e muito duros para serem apreciados. É uma uva de maturação tardia que, na grande maioria dos casos, produz fermentados longe de madeira - o que mantém suas características e tipicidade.

Teroldego

Na região do Trentino, temos uma das mais espetaculares cepas de toda Itália, a quase desconhecida Teroldego - que é a tinta mais importante das Dolomitas. Dolomitas é uma sub-região que possui uma estrada chamada de "Estrada das Dolomitas", que liga a lindíssima cidade de Cortina D'ampezzo a Bolzano, já quase no Tirol austríaco.

A Teroldego reina nessa região e praticamente só existe por lá. Ela tem características muito interessantes, produzindo desde vinhos jovens e agradáveis, até monumentos que podem envelhecer por décadas. Quando feitos para guarda, sempre mantêm seu caráter frutado com ameixas e amoras, seguidos de toques defumados. Seus fermentados são comumente carregados de tons terrosos e levemente herbáceos. É um primor que agrada também os amantes da Syrah, já que elas possuem algumas características semelhantes. Para se ter uma ideia, em 2002, durante a maior feira de vinhos do mundo, a VinItaly, o Foradori Granato 1999, um Teroldego 100%, foi eleito o melhor vinho em um programa de televisão famoso por lá, chamado Porta a Porta, comandado por Bruno Vespa.

Corvina

No Vêneto, temos uma uva que muitos enófilos conhecem, pois é mestra na produção dos Valpolicellas, Bardolinos e dos famosos Amarones. Uma cepa que, caso não seja tomado o devido cuidado com relação à superprodução, pode produzir vinhos ralos e sem muita personalidade, como a maioria dos Valpolicellas e Bardolinos - que chegaram a ser moda por aqui uma década atrás. Trata-se da Corvina que, quando é cultivada com esmero e com controle, pode produzir vinhos surpreendentes, muito especiais. Nessas circunstâncias, temos um fermentado perfumado, com excelente carga de frutas negras (cerejas) e encantadores toques florais.

Sagrantino di Montefalco, excelente para a saúde

Os umbros costumam se orgulhar e dizem de boca cheia que a casta Sagrantino é a que mais polifenóis contem. Os polifenóis são os responsáveis por um sem fim de benesses à saúde. Sua liderança neste quesito é controversa, mas, se não for a número um, esta cepa está entre as mais ricas nestas substâncias. Seus derivados são retintos, escuros, com impressionantes taninos e uma personalidade incomum. Podemos ter também fermentados doces à base dessa uva, mas, são os secos que têm conquistando, dia a dia, mais adeptos por vinhos com opulência, corpo e intensidade.

Sul da Itália e Sicília Nerello Mascalese

No sul da bota e em suas ilhas, temos uma gama impressionante de uvas. Destacam-se, porém, duas entre as tintas e três entre as brancas, pois produzem vinhos de excelente qualidade. Na Sicília (atualmente uma das maiores sensações da Itália), quando tratamos de bons vinhos, temos - nas cercanias do vulcão Etna - algumas castas autóctones como a Nocera, a Nerello Capuccio e a Nerello Mascalese. Esta última predomina em fermentados fabulosos, e, o mais interessante, traz produtos elegantes e com uma finesse mais que o normal para italianos - e mais ainda quando se trata da Sicília.

Apesar de ser uma uva com bom potencial de álcool, ela não produz vinhos muito profundos e concentrados. É, muitas vezes, mesclada com a mais intensa Nero d'Avola e também com sua irmã, a Nerello Capuccio. Para amantes de líquidos elegantes, provar um Nerello Mascalese de estirpe é um must.

Inzolia

Ainda na Sicília, temos a branca Inzolia, que resulta em vinhos muito frescos, com toques picantes. Quase sempre ela traz fermentados deliciosos e fora dos padrões, respeitando muito as características de seu terroir.

Fiano

A Fiano, também chamada de Fiano di Avelino, é uma estrela do continente. É um dos destaques da Campania, mas brilha também em terras sicilianas. Na sua máxima expressão, produz vinhos com bom peso, nuances doces no nariz, notas de flores e tons de especiarias. Não são fermentados longevos e devem ser consumidos entre dois e três anos, no máximo.

Aglianico

A Aglianico é talvez a maior vedete dentre as cepas tintas do sul da Itália, pois é encontrada na Campania, Basilicata, Calábria e Apulia. Nas duas primeiras regiões, gera desde vinhos simples até esculturas líquidas. Seus fermentados mais conhecidos são: o Aglianico del Vulture (única denominação de origem da Basilicata, em que as uvas são plantadas entre 450 e 600 metros acima do nível do mar, em solos vulcânicos no monte Vulture) e o famosíssimo Taurasi (da Campânia). Os Taurasi, dignos representantes dos melhores Aglianicos, são muito intensos, concentrados e firmes, com muita personalidade e força.

As multinacionais Petit Verdot

Ao contrário da máxima do terroir, existe uma grande gama de produtores de vinhos que não tem muita preocupação com as uvas autóctones. Essa linha é representada por produtores que dizem: "meu objetivo é fazer o melhor vinho possível, independentemente de tradição e da casta que representa determinado local". Ouvimos recentemente isso do genial empresário italiano, Andrea Franchetti, que possui propriedades na Toscana e Sicília e que tem vinhos entre os mais cobiçados, especiais e caros da Itália. Um homem revolucionário. Na Toscana, Andrea só produz fermentados a partir do quarteto bordalês, Merlot, Petit Verdot, Cabernet Sauvignon e Franc.

Na Sicília, ele respeitou, em parte, a já citada Nerello Mascalese, alma de um de seus vinhos dessa ilha, mas arrancou dois hectares de Nerello e plantou, em seu lugar, a Petit Verdot - que é a base (na maioria das vezes varietal) de seu vinho ícone, de nome Franchetti.

A Petit Verdot é, dentre todas as uvas bordalesas, a que mais tempo leva para chegar à maturação. Normalmente, ela é usada para dar estrutura e cor nos cortes de Bordeaux e tem sido, ultimamente, uma das maiores febres mundo a fora. Muitos países investiram nessa casta e, hoje, podemos encontrar deliciosos Petit Verdot na Argentina, Chile, Califórnia, Austrália e, principalmente, Espanha.

Seus vinhos costumam ser muito escuros, densos, com aromas de fruta negra madura e boa carga floral, com destaque para violetas. No palato, apresentam sempre muita força, personalidade e pungência. Nunca espere, por exemplo, de um Petit Verdot puro, elegância, mas, sim, sempre potência e força.

Carignan

Mais uma cepa francesa que tem conseguido novos adeptos mundo afora é a Carignan. Uma das mais plantadas no Languedoc Roussillon, ela tem muita penetração também na vizinha Espanha. Por lá, é conhecida como Cariñena e tem presença forte nas regiões da parte superior do rio Ebro (Rioja, Navarra e Aragon) e ainda no Priorato e Catalunha. Na Itália, com o nome de Cariñano, faz sucesso na Sardenha, onde divide com a Cannonau (como a Grenache é conhecida por lá) o título de mais importante dentre as tintas.

Atualmente, o Chile é talvez o país com mais ofertas de vinhos produzidos com a predominância dessa interessante uva, já com muitos reconhecimentos internacionais. Apesar de não estar passando ainda pelos mesmos momentos gloriosos que teve no século passado - pois teve certa decadência nos últimos anos -, a Carignan tem se recuperado e provado que é uma ótima alternativa para vinhos com raça e tipicidade.

Se não trabalhada com esmero nas vinhas, chega a produzir impressionantes 20 toneladas por hectare, o que resulta em fermentados ordinários, ralos e sem expressão. Seus bons vinhos, normalmente de vinhas mais antigas, possuem características interessantes, como sua bela cor (tons muito escuros), taninos em abundância, uma presente acidez e certa adstringência, o que lhe concede uma característica muito interessante, quase sempre fora do óbvio. O trabalho do agrônomo é fundamental para que tenhamos produtos de qualidade a partir da Carignan. Sol e boa drenagem são fundamentais para obtenção de bons resultados.

Mourvèdre

A terceira cepa dessa seleção "uva sem fronteiras" é a Mourvèdre, também conhecida como Monastrell na Espanha, e ainda Mataró, principalmente para os australianos e californianos. Esta controversa cepa produz seus melhores vinhos na Provença e no sul do Rhône, na França, no sul e centro da Espanha, e na Califórnia. É mais conhecida pelo nome francês, mas é de origem espanhola. Normalmente, a Mourvèdre é utilizada em blends com a Grenache, sendo muito usada em largas quantidades em alguns grandes Châteauneuf-du- Pape, como o renomadíssimo Château de Beaucastel.

As principais características dos vinhos à base dessa uva são: cor não muito intensa, taninos em boa quantidade, estilo selvagem, aromas herbáceos e boa carga de cassis, mirtilos, cerejas e ameixas negras. É mola mestra de um dos mais renomados fermentados da Catalunha: Conca de Barberá Gran Muralles, da Vinícola Torres, e do charmoso Château de Pibarnon de Bandol, produzido nas cercanias de Toulon, na Provença.

A Pinot Gris da Alsácia, Espetaculares secos e monumentais doces

A produção de vinhos secos e brancos com características fabulosas não é para qualquer um. Poucas uvas conseguem essa distinção, como a exuberante Pinot Gris da Alsácia. Antes, era chamada de Tokay D'Alsace ou Tokay Pinot Gris, mas a União Europeia decidiu que só os húngaros podem utilizar o nome Tokay em seus vinhos.

A Pinot Gris da Alsácia é a mesma que a Pinot Grigio italiana e a Grauburgunder alemã. A alma dessa uva é muito interessante, pois, na Alsácia, desenvolveu- se sobremaneira, produzindo desde excepcionais brancos secos até doces que podem se equiparar aos melhores Sauternes.

Na versão "seca", aporta muito perfume, boa carga de doçura nos aromas, frutas secas (como castanha do Pará), toques especiados e fundo mineral. Esses vinhos são quase sempre muito exóticos e podem ser boa companhia para pratos asiáticos, porco e ganso, repletos de condimentos. São, sem dúvida, uma ótima alternativa para grandes brancos cheios de força e personalidade, pois são os mais encorpados da França ao lado de grandes nomes da Borgonha.

Na versão "doce", podemos encontrar os Vendanges Tardives, com uma boa quantidade de uvas atacadas pelo Botrytis cinerea (a "podridão nobre"), e a versão mais espetacular, os Selection des Grains Nobles, produzidos a partir de uvas 100% atacadas pela "podridão nobre". Estes últimos são verdadeiros néctares, com preços de tirar o fôlego de qualquer amante por vinhos.

Viura, De vinhos ordinários a verdadeiras jóias

Viura é como é conhecida a casta branca não muito aromática na região da Rioja, Espanha. Seus outros nomes são Macabeo, Maccabéo ou Maccabeus - usados no Languedoc Roussillon, onde é vastamente plantada. Essa cepa é double face, pois dela temos um sem fim de vinhos insossos e simples, tanto do sul da França quanto em toda Espanha, com mais ênfase na Catalunha e centro.

Contudo, podemos encontrar, na França, bons brancos nas regiões de Corbieres e Minervoies. Mas, é na Rioja que essa resistente uva produz vinhos brancos de uma profundidade incomum. Seu passado não é tão nobre e ela era utilizada na composição de tintos para baixar a dureza dos taninos e a acidez. Isso, em menor proporção, ocorre até hoje na Rioja.

Sua versatilidade é interessante, pois pode ser vinificada em aço inoxidável. Porém, também acolhe a vinificação em barricas de carvalho nobre com boa performance. É uma uva de difícil manuseio, pois, se colhida antes da hora, produz vinhos com pouco aroma e, se deixada por muito tempo na vinha, perde o equilíbrio e a acidez fica desbalanceada.

Hoje, na Rioja, essa cepa representa 15% da área total plantada, atingindo cerca de 7.500 hectares. Seus vinhos de boas bodegas, vinificados e envelhecidos em barris de carvalho, são de cor amarelo profundo, com caráter de frutas como toranja (tradução em português de grapefruit ou pomelo), além de ter uma resistência incrível. Os Gran Reserva de base Viura da Rioja são, sem dúvida, os brancos mais longevos do mundo. É uma experiência incrível provar um Gran Reserva da Viña Tondonia com 20 anos de idade. Um branco ainda jovem, mas sedutor e com incrível persistência.

Portugal, muito mais que Touriga Nacional

Portugal é também um país rico em diversidade de uvas. As cepas autóctones são muitas e já temos uma que está muito famosa: a deliciosa e encantadora, Touriga Nacional - talvez a grande mola mestra dos vinhos do Douro, que encantam o mundo. Mas, na terra de Cabral, existem muitas outras castas interessantes. Escolhemos uma branca e duas tintas, que fazem sucesso por lá.

Encruzado

A branca Encruzado, com origem no centro do país (mais precisamente no Dão), é muito especial e resulta em produtos com estrutura fabulosa, longevos e muito presentes. Tem potencial para ser fermentada em barrica, o que ocorre na maioria de seus vinhos top. A madeira normalmente agrega muito valor aos fermentados produzidos a partir dessa casta. Eles costumam ser elegantes, com firmes aromas florais e herbáceos. Primam pelo excelente equilíbrio entre fruta, acidez, madeira e álcool.

Alicante Bouschet

Já a tinta Alicante Bouschet é de origem francesa. É a cruza da Petit Bouschet com a Garnacha Tintorera, criada por Henri Bouschet em 1866. A ideia da cruza era para ter uma uva que desse mais cor aos vinhos. A Alicante Bouschet produz vinhos quase negros. Na França, essa cepa foi plantada em Bordeaux, Vale do Loire e até na Borgonha. Lá, ela vive um retrocesso e já está praticamente extinta em algumas regiões.

Sua maturação é das mais rápidas e a produção pode chegar a mais de 20 toneladas por hectare. Concede aos vinhos excelente cor, bons taninos e excelente frutosidade. De todos os países no mundo, tem mais destaque hoje em Portugal, mais especificamente no Alentejo, onde podemos encontrar alguns ótimos varietais e vários cortes com bom destaque.

Alfrocheiro Preto

A última casta é "portuguesa com certeza". A Alfrocheiro Preto, também conhecida só como Alfrocheiro. Podemos encontrá-la na Bairrada, Dão, Terras do Sado e Alentejo. Foi introduzida no Dão mais fortemente após a filoxera. Seus fermentados são de cor profunda, muito especiados, com fruta madura (destaque para o cassis) e excelentes taninos, tendendo para mais suavidade. Também é muito usada como blend. Mas, às vezes, podemos encontrar alguns bons varietais. Vale a pena provar.

Novas estrelas espanholas

De todos os países do novo mundo, não há dúvida que o que mais revolucionou o estilo de seus vinhos é a Espanha. A modernidade chegou aos domínios do rei Juan Carlos e coloca esse país no cenário mundial com produtos diferentes, alegres e com muito estilo. Destacamos dois verdadeiros fenômenos, a Mencía, que é absoluta na DOC de Bierzo, e a Callet, uva nativa da ilha de Palma de Mallorca.

Mencía

A Mencía é uma casta que deixa alguns rastros, tais como sua semelhança com a Cabernet Franc e com a portuguesa Jaen. Essa cepa vem mudando o rumo e colocando a pequena DOC de Bierzo no mapa dos grandes tintos espanhóis. Antes, ela produzia vinhos ligeiros, macios, com boa acidez e excelente carga de frutas, com morangos e cassis. Ultimamente, contudo, com um trabalho mais forte na videira e com rendimentos baixos, ela traz vinhos espetaculares, firmes e com muito estilo. Vai muito bem in natura, ou seja, sem madeira, assim como evolui bem quando passa por estágio em barricas de carvalho.

Talvez o grande nome responsável pela ascensão dessa uva seja o genial riojano Alvaro Palácios, que, depois de colocar seus Prioratos entre os fermentados mais caros da Espanha, dedicou-se a uma vinícola no caminho de Santiago de Compostela, produzindo verdadeiras esculturas líquidas a partir da Mencía. Essa casta, hoje, é uma grande tendência na Espanha.

Callet

A Callet - uva de dificílima análise, pois não há registros de onde ela vem exatamente - é um monumento. Seus vinhos ficam com a elegância de um delicioso Pinot Noir aliado à força de um belo Syrah. Para se produzir grandes vinhos, vinhas velhas são fundamentais. Algumas destas vinhas de Callet na ilha de Mallorca chegam a produzir somente 300 gramas por cepa, o que a coloca entre os rendimentos mais baixos de que se tem registro. Caráter, presença, elegância e um misto de sutileza e força, são as principais características de vinhos produzidos com predominância da Callet.

A branca Assyrtiko em Santorini, na Grécia

A ilha de Santorini, na Grécia, é um dos maiores cartões postais do mundo.

A magia dessa ilha, com suas lindíssimas praias e um pôr do sol dos mais belos do planeta, tem, além disso tudo, uma estrela, a casta "branca" Assyrtiko. A uva também é plantada em outras regiões da Grécia, como Ática, Halkidiki e Drama. No entanto, é nos solos vulcânicos de Santorini que podemos encontrar seus melhores exemplares. Seus fermentados têm muita personalidade, alto grau mineral, bom volume de frutas e uma presente acidez. Essa quase inexplorada cepa tem todas as características para ser uma grande estrela de nível mundial quando o assunto é brancos elegantes, secos e com muita vivacidade.

Savagnin, uma religião do Jura, na França

A Savagnin é a uva do famoso Vin Jaune, uma verdadeira jóia na França, mais especificamente no Jura, pois não há nada similar no país que possa ser comparado a tal. Talvez a comparação pelo estilo se dê com os vinhos de Jerez, pois o processo de produção possui certa congruência. O que difere os Jerez dos Vin Jaune é a adição de aguardente vínica, que só ocorre nos espanhóis.

Podemos ainda ter brancos secos a partir da Savagnin com características muito parecidas às do Vin Jaune e, por consequência e analogia, às dos Jerez.

A uva em questão tem maturação Savagnin compõe o famoso "Vin Jaune" tardia, atingindo condições ideais de colheita em novembro e, às vezes, entrando em dezembro.

Normalmente, os vinhos após a fermentação são colocados em grandes barris de carvalho usado por alguns anos (no Vin Jaune é obrigatório o período de seis anos e três meses antes do engarrafamento) para a maturação. Com muitos anos de oxidação, os fermentados têm caráter único, com muita fruta seca, maçã verde e uma penetrante acidez. Provar vinhos provenientes da Savagnin é uma experiência única. Muito forte como aperitivo (início de um evento enogastronômico) e excelente com queijos de fortes de massa mole.

fonte: revista adega.

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