sexta-feira, janeiro 22, 2010

Djavan - Infinito




Tô perdido por alguém
Não consigo ver nada além
Do que eu digo nada sei
Compreender o amor
Não é de hoje
Já vai longe
E nem sinal
Hoje
Estou longe
Preso a você
Livre na prisão
Sem castigo
Faz chorar
Distraído rói devagar
É pedindo que Deus dá
Por falar no amor
Acho que vou buscar
Viver por você
Ou me acabar
Quem mandou me acorrentar
Fazer-me refém
Nas grades do amor
Te vejo lá no luar
Te espero lá no sol.

O LONGO CAMINHO CURTO CURTO CAMINHO LONGO


… “Certa vez uma criança arrebatou o melhor de mim. Eu viajava e me encontrava diante de uma encruzilhada. Vi então um menino e lhe perguntei qual seria o caminho para a cidade. Ele respondeu: ‘ Este é o caminho curto e longo e este o longo e curto.’ Tomei o curto e longo e logo me deparei com obstáculos intransponíveis de jardins e pomares. Ao retornar, reclamei: ‘Meu filho, você não me disse que era o caminho curto?’ O menino então respondeu: ‘Porém lhe disse que era longo!’ ”
Na trilha da sobrevivência, a “mesmice” muitas vezes é o caminho curto, o mais simples, e que tem os custos mais elevados (longo). Ir pelo caminho mais simples e mais curto é uma lei evolucionista. Certamente os corpos se movem na direção mais imediata e curta. Os galhos buscam a luz e o animal a água, mas sua inteligência interna, sua alma, está atenta a longas modificações. A tentativa de sobrevivência acontece nos campos de batalha do mundo curto e do mundo longo. As chances de extinção dos que percorrem caminhos curtos que são longos é muito grande. As espécies sobreviventes são aquelas que souberam fazer opções pelo longo caminho curto.
Em nosso dia-a-dia sabemos muito bem quais são os processos curtos e quais são os longos. Fazemos também nossas opções por padrões que optam pelo curto. Mas nossos mecanismos de dectar se são “curtos longos” ou “longos curtos” existem e sempre estão aí para apontar novos inícios, por exemplo, de relações de trabalho, amor ou amizade.
A coragem está em ouvir o menino das encruzilhadas. Ele, com certeza, alerta para ambas as possibilidades de caminho. Este menino das encruzilhadas é a alma. Não se assuste com as parábolas que falam de demônios dissimulados nas encruzilhadas. Os demônios das encruzilhadas querem sempre apontar os caminhos mais “curtos”. Ninguém que alerte para o fato de que os “curtos podem ser longos” e os “longos podem ser curtos” é de ordem demoníaca.
Afinal, as encruzilhadas são de grande importância. Não são meras opções de acesso, mas de sobrevivência, e o curto caminho longo pode não levar a lugar algum. Se você estiver diante de uma encruzilhada, lembre-se do menino e preste atenção para não ser seduzido, pelo corpo, por um caminho curto. Lembre-se de que a paz está primeiro com quem vem de longe.



Extraído de:
Bonder, Nilton
A alma imoral:traição e tradição através dos tempos
/ Nilton Bonder - Rio de Janeiro: Rocco: 1998. páginas 56 e 57

quarta-feira, janeiro 06, 2010

EU TE AMO... NÃO DIZ TUDO!



Você sabe que é amado(a) porque lhe disseram isso?


A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras.


Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida,
Que zela pela sua felicidade,
Que se preocupa quando as coisas não estão dando certo,
Que se coloca a postos para ouvir suas dúvidas,
E que dá uma sacudida em você quando for preciso.


Ser amado é ver que ele(a) lembra de coisas que você contou dois anos atrás.


É ver como ele(a) fica triste quando você está triste,
E como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d'água.


Sente-se amado aquele que não vê transformada a mágoa em munição na hora da discussão.


Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.
Aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido.


Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é,
Sem inventar um personagem para a relação,
Pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.


Sente-se amado quem não ofega, mas suspira;
Quem não levanta a voz, mas fala;
Quem não concorda, mas escuta.


Agora, sente-se e escute: Eu te amo não diz tudo!



Arnaldo Jabor.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Feliz 2010!!!!

Que neste ano novo:

" Sonhe aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
Porque você possui apenas uma vida
E nela só se tem uma chance
De fazer aquilo que se quer.
Tenha Felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes
Não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
Das oportunidades que aparecem
Em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância
Das pessoas que passam por suas vidas.
O futuro mais brilhante
É baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
Quando perdoar os erros
E as decepções do passado.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
Duram uma eternidade. "
Clarice Lispector

sábado, janeiro 02, 2010

Rearrumação - karina Rabinovitz

minha geladeira,
resolvi colocar embaixo da amendoeira
do quintal do vizinho,
só pra mudar as coisas de lugar!

minha cama,
pus na beira do mar,
e meu sofá,
arrastei pra praça,
onde sento e como pipoca
e vejo tudo que passa.

meu armário, pintei de roxo
e deixei a porta bem aberta.
ele já não guarda mais nada.
liberta.
deixou de ser gaiola.

minha vitrola,
que se entrosa bem com o meu pufe,
está ao lado dele agora,
tocando músicas no meio da avenida,
por entre os carros.

joguei, além, muita coisa fora:
roupas, papéis, talheres, divã...

esta manhã,
acordei cansada de tudo como está
e resolvi simplesmente,
mudar as coisas de lugar!

pra celebrar mais um fim e mais um início - karina Rabinovitz


o peixe tinha molho de manga e alcaparras,
só pra lembrar:
a vida são essas farras!
entre doce_salgado,
leve_pesado
amanhã_passado

e no meio do furacão de tudo,
entre manga e alcaparras,
sua risada. suas asas.
só pra lembrar:
a vida são essas pausas...


karina Rabinovitz

sexta-feira, janeiro 01, 2010

Oração ao Tempo - Maria Bethânia


Oração ao Tempo
Maria Bethânia
Composição: Caetano Veloso

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo
Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que eu te digo
Tempo tempo tempo tempo
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definitivo
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo
O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo
Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo


Maria Bethânia

Entrevista de Maria Bethânia ao programa Por Outro Lado, da emissora portuguesa RTP, em 2003.

Parte I



Parte II



Parte III



Parte IV



Parte V

Fernando Pessoa


Pensar

Todos os sentimentos são afinal fruto do pensamento.

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

18-9-1933

Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).
- 179.

CLARICE LISPECTOR - Um Enigma


"Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo".
Um Objeto Não Identificado Das Letras Brasileiras
"... eu só escrevo quando eu quero, eu sou uma amadora e faço questão de continuar a ser amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever, ou então em relação ao outro. Agora, eu faço questão de não ser profissional, para manter minha liberdade."

1947 Berna - Suiça "Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu...Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma".

Clarice Lispector.
Retrato - Carlos Scliar - 72