quinta-feira, dezembro 17, 2009

Nada como um bom amigo

A rede social do indivíduo está fortemente ancorada em seu funcionamento cerebral. Amigos propiciam bem-estar, asseguram saúde psíquica e prolongam a vida

por Klaus Manhart

Amigo é a melhor coisa do mundo. Nada mais verdadeiro, confirmam os psicólogos. Segundo estudos recentes, relações estáveis entre pessoas estimulam a saúde mental e física e até mesmo prolongam a vida.

Contatos sociais parecem ter colaborado para que, na evolução, nosso cérebro se transformasse em órgão de alta capacidade. Robin Dunbar, da Universidade de Liverpool, já havia chegado a essa conclusão há alguns anos. O antropólogo e psicólogo evolucionista percebera que, nos macacos, havia relação entre o tamanho do cérebro e o número de integrantes do grupo: quanto mais elementos tivesse o bando de uma espécie, mais volumoso seria o córtex dos animais.

A partir daí, Dunbar criou uma hipótese sobre o "social brain" (cérebro social), segundo a qual o desenvolvimento das estruturas sociais teria impulsionado a evolução do cérebro. Pois, de acordo com ele, quanto maior o grupo, tanto mais informações sobre os outros indivíduos têm de ser processadas pelo cérebro para que o convívio social possa funcionar. Sendo assim, porém, a capacidade de processamento do cérebro também limitaria o tamanho de nosso círculo social - segundo Dunbar, aproximadamente 150 pessoas.

Há milhares de anos esse número está presente em grupos humanos, das sociedades de caçadores e coletores às vilas de agricultores da Indonésia e da América do Sul. O mesmo vale para os militares: no exército romano, as unidades básicas eram os chamados "manípulos", com aproximadamente 150 soldados; e o tamanho das companhias atuais varia de 120 a 150 homens. Nas indústrias modernas também se verifica que uma estrutura organizacional relativamente informal só funciona se tiver, no máximo, 150 trabalhadores. Se o número for maior, é necessária uma hierarquia mais severa, pois, caso contrário, sabe-se, por experiência, que a produtividade total cai: a pressão do grupo como incentivo à produção individual deixa de funcionar devido ao maior anonimato, e, no lugar dela, surgem o controle e as orientações formais...
Qual será a base desse efeito de longevidade? Aparentemente não é apenas o apoio mútuo entre conhecidos que faz diferença, mas o fato de ele ser voluntário, ocorrer por prazer e não apenas por obrigação ou convenção. Decisivo, portanto, é o fato de as pessoas poderem escolher os seus amigos (ao contrário do que acontece com os indivíduos da própria família).

Manter contato com pessoas que nos consideram importantes e nos dão valor, segundo os pesquisadores australianos, tem efeito positivo sobre a nossa saúde tanto física quanto mental: o stress e tendências depressivas são reduzidos e comportamentos relevantes para a saúde - como o mau costume de beber ou fumar - sofrem influências benéficas. Principalmente em tempos de crise, os amigos podem melhorar o humor e a auto-estima, assim como sugerir estratégias para a resolução de problemas...Quem tem bons amigos e conhecidos, portanto, se diverte com mais freqüência e aumenta suas chances de uma vida longa. Motivo suficiente para cultivar as amizades - e quem sabe até mesmo reativar alguns contatos esquecidos do tempo da adolescência e da faculdade.


Klaus Manhart é filósofo e cientista social.

Página fonte: Revista Mente e Cérebro