sábado, dezembro 19, 2009

Quadrilha / Carlos Drummond de Andrade


Quadrilha
Composição: Carlos Drummond de Andrade
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.


Todo o Sentimento








Todo o Sentimento
Maria Bethânia
Composição: Cristovão Bastos/ Chico Buarque



Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente
Preciso descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente
Doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro com certeza
Talvez no tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei como encantado
Ao lado teu

Sobre todas as coisas


Para um dia de memória e oração:

Pelo amor de Deus
Não vê que isso é pecado
desprezar quem lhe quer bem
Não vê que Deus até fica zangado vendo alguém
Abandonado pelo amor de Deus
Ao Nosso Senhor
Pergunte se Ele produziu nas trevas o esplendor
Se tudo foi criado - o macho, a fêmea, o bicho, a flor
Criado pra adorar o Criador
E se o Criador
Inventou a criatura por favor
Se do barro fez alguém com tanto amor
Para amar Nosso Senhor
Não, Nosso Senhor
Não há de ter lançado em movimento terra e céu
Estrelas percorrendo o firmamento em carrossel
Pra circular em torno ao Criador
Ou será que o deus
Que criou nosso desejo é tão cruel
Mostra os vales onde jorra o leite e o mel
E esses vales são de Deus
Pelo amor de Deus
Não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem
Não vê que Deus até fica zangado vendo alguém
Abandonado pelo amor de Deus

(Edu Lobo e Chico Buarque)

Seu Pensamento / Adriana Calcanhoto

Não desisto da idéia...



A uma hora dessas
por onde estará seu pensamento
Terá os pés na pedra
ou vento no cabelo?

A uma hora dessas
por onde andará seu pensamento
Dará voltas na Terra
ou no estacionamento?

Onde longe Londres Lisboa
ou na minha cama?

A uma hora dessas
por onde vagará seu pensamento
Terá os pés na areia
em pleno apartamento?

A uma hora dessas
por onde passará seu pensamento
Por dentro da minha saia
ou pelo firmamento?

Onde longe Leme Luanda
ou na minha cama?

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Grande Sertão: Veredas

"(...) Mas eu não tinha raiva desse seô Habão, juro ao senhor, que ele não era antipático. Eu tinha era um começo de certo desgosto, que seria meditável. — 'Para o ano, se Deus quiser, boto grandes roças no Valado e aqui... O feijão, milho, muito arroz...' Ele repisava, que o que se podia estender em lavoura, lá, era um desadoro. E espiou para mim, com aqueles olhos baçosos — aí eu entendi a gana dele: que nós, Zé Bebelo, eu, Diadorim, e todos os companheiros, que a gente pudesse dar os braços, para capinar e roçar, e colher, feito jornaleiros dele. Até enjoei. Os jagunços destemidos, arriscando a vida, que nós éramos: e aquele seô Habão olhava feito o jacaré no juncal: cobiçava a gente para escravos! Nem sei se ele sabia que queria isso. Acho que a idéia dele não arrumava o assunto assim à certa, mas a natureza dele queria, precisava de todos como escravos. Ainda confesso declarado ao senhor: eu não tivesse raiva daquele seô Habão, porque ele era um homem que estava de mim em tão grandes distâncias... "

João Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas. José Olympio, 1956.

L'etranger / O Estrangeiro (Albert Camus)

"J'ai souvent pensé que si l'on m'avait fait vivre dans le tronc d'un arbre sec, sans autre occupation que de regarder la fleur du ciel au dessus de ma tête, je m'y serais peu à peu habitué."

(Pensei muitas vezes que se me obrigassem a viver dentro de um tronco seco de árvore, sem outra ocupação além de contemplar a flor do céu acima de minha cabeça, eu teria me habituado aos poucos).

Dos Cílios

Os cílios agarraram-se às pálpebras quando tentei fechar meus olhos. Mas você assoprou e todos voaram. De novo nasceram e de novo voaram. Não faça mais isso! Quem vai cortar a lágrima em fatias no dia em que você for embora?

Escrito por Rita Apoena
encontrar auroras e possibilidades douradas, amar uma alma rica e ousada: todos precisam disso ao menos uma vez na vida.
(Irvin yalom)
Pensar letras
sentir palavras
a alma cheia de dedos.
(Alice Ruiz)
Meu vestido é cheio de segredos. A cada botão que você abre, sinto uma rosa desabrochar.
(Rita Apoena)

Mudanças

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares ...

É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos...

Fernando Pessoa

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Multiplicando Pães


Crise, palavra pessimista, foi trocada nos anos setenta pelo significado chinês de “oportunidade”, palavra otimista. No entanto, o pessimismo e o otimismo são lados de uma mesma moeda: o desejo de controle. O que não queremos aceitar é que uma crise é convulsão, é involuntária, é fronteira entre nossa atitude e a vida.

A crise é percebida como escassez e se dá mais na relação com a vida do que na realidade. Esquecemos que a vida é em si abundância, um fenômeno para além do descrito por Darwin. Não é a competição que faz a vida, é o compartilhar; não é a escassez que determina o vencedor, mas a capacidade de se relacionar com o meio ambiente de uma forma abundante.

A ecologia, por exemplo, martela a idéia da escassez. Verdade que a mentalidade da falta favorece a contenção, mas também o desejo por acumulo, a competição e o foco na míngua. A penúria é sempre localizada na insuficiência do recurso e nunca na relação de insatisfação. E sobre isso muito tem a dizer o profeta bíblico. Há 25 séculos disseram que a grande evolução espiritual seria de ordem econômica e ética. E se daria na mudança de foco da escassez para a abundância. Não seria a oferta e a demanda que ditaria os valores, mas os valores internos que regulariam a relação com a oferta e a demanda do momento. E eles nos ofereceram um “case”, um modelo experimental:
O profeta Eliseu se viu com cem homens tendo apenas vinte pães. Seu servo disse: “Como hei de pôr isto diante de cem homens? E disse ele: Dá para que comam; comerão, e sobejará”. Comeram e sobrou.

O racionalista lê esta passagem como piedosa desprovida de realidade. Já o crente a lê como uma prova de milagre, de que a realidade é moldável à moral e às expectativas de bondade. Ambas atendem ao desejo de controle e não abarcam o sentido do profeta. O profeta não produz mais pães. Só existem vinte. O que o ele promove é uma relação distinta com a vida. Para que vinte pães alimentem cem homens é necessária uma nova relação com estes recursos. Se o seu foco for a escassez irão matar uns aos outros. O que eles precisam é descobrir alternativas que resgatem a abundância. O profeta não interfere na realidade de oferta e demanda, mas estabelece uma nova relação com o recurso, uma nova economia. A fartura dessa nova relação se dá em ativos de natureza diferente. Há ativos do tipo “soma-zero” que não se reduzem e escasseiam na divisão. Óbvio isto não ocorre com a riqueza ou o poder, mas sim com o conhecimento, a confiança, a amizade, a gentileza e o amor. Esses artigos não rareiam com a divisão, ao contrário, se multiplicam. Só fazendo uso deste tipo de comodities vinte pães podem satisfazer e sobrar para cem homens. Somente elas poderão incluir uma nova metade esquecida da população mundial que quer desfrutar de abundância já que isso não se fará pelos recursos, mas por uma nova relação com a vida.

Nossa relação é equivocada. Olhamos o espaço e o percebemos escasso. A terra não é o lote, o hectare; mas a relação com a vida. Olhamos nosso tempo e o percebemos escasso. Os momentos não são as horas, os dias, a longevidade; mas as escolhas de cada instante. Não há escassez na interação que o espaço promove e não há escassez nas escolhas que o tempo permite.

As crises são advertências daquilo que é, mas não queremos aceitar. Não se trata de conformismo, mas economia. A multiplicação dos pães não virá nem por ilusão ou hiper-realismo. Estará sempre disponível à espécie que souber sair da zona de conforto e se guiar pela abundância, que é por onde a vida passa.



Artigo publicado em:
O GLOBO - 1º CADERNO - OPINIÃO - 27 de setembro de 2008



Rabino Nilton Bonder

Amyr Klink

"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV.

Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto.

Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver"

(trecho do livro "Mar sem Fim")

Mário Quintana


"A gente sempre deve sair à rua
como quem foge de casa,
como se estivessem abertos diante de nós
todos os caminhos do mundo"

Guimarães Rosa

"A vida só quer uma coisa
da gente: CORAGEM"

Leonardo Da Vinci

"E uma vez descoberto o vôo,
estarás condenado a caminhar
olhando para o céu,
pois terás descoberto
porque os pássaros cantam"

Chris McCandless

"Gostaria de repetir o conselho que lhe dei antes: acho que você deveria promover uma mudança radical em seu estilo de vida e fazer corajosamente coisas em que talvez nunca tenha pensado, ou que fosse hesitante demais para tentar.

Tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionada a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo, tudo isso parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é mais maléfico para o espírito do homem que um futuro seguro.

A coisa mais essencial do espírito vivo de um homem é sua paixão pela aventura. A alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências [..]

Você está errado se acha que a alegria emana somente ou principalmente das relações humanas. Deus a distribuiu em toda a nossa volta. Está em tudo ou em qualquer coisa que possamos experimentar. Só temos de ter a coragem de dar as costas para nosso estilo de vida habitual e nos comprometer com um modo de vida não-convencional.

O que quero dizer é que você não precisa de mim ou de qualquer outra pessoa para pôr esse novo tipo de luz em sua vida. Ele está simplesmente esperando que você o pegue e tudo que tem a fazer é estender os braços. A única pessoa com quem você está lutando é com você mesmo [..]

Espero que na próxima vez que eu o encontrar você seja um homem novo, com uma grande quantidade de novas experiências na bagagem. Não hesite nem se permita dar desculpas. Simplesmente saia e faça. Simplesmente saia e faça. Você ficará muito, muito contente por ter feito."


(carta para Ron Franz, retirado do livro "Na Natureza Selvagem")

Trabalho ou Diversão? Ambos - François Chateaubriand

Um mestre na arte de viver não possui distinção clara entre seu trabalho e sua diversão; seu expediente e seu ócio, sua mente e seu corpo; sua educação e sua recreação.

Ele apenas busca sua visão de excelência em tudo que faz, e deixa os outros determinarem quando está trabalhando ou se divertindo. Para si, parece sempre estar fazendo ambos.

(François-René Chateaubriand)

A cidade é nosso meio ambiente

Thays Prado - Edição: Mônica Nunes

Os arquitetos Sylvio Podestá e Jaime Lerner, o diretor do Instituto Cidade Jardim, Sérgio Rocha, e o artista Jean Paul Ganem, mostram que, com um pouco mais de verde e, especialmente, de respeito com os de nossa espécie, poderemos voltar a viver de forma mais integrada com a natureza, sentir que também fazemos parte do meio ambiente, e que as cidades se tornaram, há muito tempo, nosso habitat natural.
A natureza está distante de nós, especialmente nas grandes cidades, em que, muitas vezes, ela se resume a um vasinho de planta esquecido na área de serviço ou a um cachorro que levamos duas vezes ao dia para passear – no máximo. Quando precisamos de um alívio em relação ao tumulto urbano, passamos um tempo no parque – só não dá para ir embora muito tarde! é uma questão de segurança… – ou vamos para a praia, que, aliás, nos parece sempre cheia demais.

Preocupados em sobreviver na “lei da selva” dos seres humanos, nos esquecemos de que também somos natureza, de que todas as pessoas fazem parte da mesma espécie, não importa quais sejam a etnia, a língua, a orientação sexual, a profissão, os hábitos de vida ou quanto dinheiro têm no bolso ou no banco. No reino da individualidade, onde o mais forte prevalece por questões que vão muito além da busca pela sobrevivência, sequer nos damos conta de que as cidades onde moramos são o nosso meio ambiente e que podemos ter uma convivência mais harmônica e integrada se cuidarmos delas como nosso lar.



Página fonte: Planeta Sustentável

Nada como um bom amigo

A rede social do indivíduo está fortemente ancorada em seu funcionamento cerebral. Amigos propiciam bem-estar, asseguram saúde psíquica e prolongam a vida

por Klaus Manhart

Amigo é a melhor coisa do mundo. Nada mais verdadeiro, confirmam os psicólogos. Segundo estudos recentes, relações estáveis entre pessoas estimulam a saúde mental e física e até mesmo prolongam a vida.

Contatos sociais parecem ter colaborado para que, na evolução, nosso cérebro se transformasse em órgão de alta capacidade. Robin Dunbar, da Universidade de Liverpool, já havia chegado a essa conclusão há alguns anos. O antropólogo e psicólogo evolucionista percebera que, nos macacos, havia relação entre o tamanho do cérebro e o número de integrantes do grupo: quanto mais elementos tivesse o bando de uma espécie, mais volumoso seria o córtex dos animais.

A partir daí, Dunbar criou uma hipótese sobre o "social brain" (cérebro social), segundo a qual o desenvolvimento das estruturas sociais teria impulsionado a evolução do cérebro. Pois, de acordo com ele, quanto maior o grupo, tanto mais informações sobre os outros indivíduos têm de ser processadas pelo cérebro para que o convívio social possa funcionar. Sendo assim, porém, a capacidade de processamento do cérebro também limitaria o tamanho de nosso círculo social - segundo Dunbar, aproximadamente 150 pessoas.

Há milhares de anos esse número está presente em grupos humanos, das sociedades de caçadores e coletores às vilas de agricultores da Indonésia e da América do Sul. O mesmo vale para os militares: no exército romano, as unidades básicas eram os chamados "manípulos", com aproximadamente 150 soldados; e o tamanho das companhias atuais varia de 120 a 150 homens. Nas indústrias modernas também se verifica que uma estrutura organizacional relativamente informal só funciona se tiver, no máximo, 150 trabalhadores. Se o número for maior, é necessária uma hierarquia mais severa, pois, caso contrário, sabe-se, por experiência, que a produtividade total cai: a pressão do grupo como incentivo à produção individual deixa de funcionar devido ao maior anonimato, e, no lugar dela, surgem o controle e as orientações formais...
Qual será a base desse efeito de longevidade? Aparentemente não é apenas o apoio mútuo entre conhecidos que faz diferença, mas o fato de ele ser voluntário, ocorrer por prazer e não apenas por obrigação ou convenção. Decisivo, portanto, é o fato de as pessoas poderem escolher os seus amigos (ao contrário do que acontece com os indivíduos da própria família).

Manter contato com pessoas que nos consideram importantes e nos dão valor, segundo os pesquisadores australianos, tem efeito positivo sobre a nossa saúde tanto física quanto mental: o stress e tendências depressivas são reduzidos e comportamentos relevantes para a saúde - como o mau costume de beber ou fumar - sofrem influências benéficas. Principalmente em tempos de crise, os amigos podem melhorar o humor e a auto-estima, assim como sugerir estratégias para a resolução de problemas...Quem tem bons amigos e conhecidos, portanto, se diverte com mais freqüência e aumenta suas chances de uma vida longa. Motivo suficiente para cultivar as amizades - e quem sabe até mesmo reativar alguns contatos esquecidos do tempo da adolescência e da faculdade.


Klaus Manhart é filósofo e cientista social.

Página fonte: Revista Mente e Cérebro

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Das Vantagens de Ser Bobo - Clarice Lispector



Das Vantagens de ser Bobo
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo.
O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando”.
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer.
Resultado: não funciona.
Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro.
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto estar tranqüilo.
Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros.
Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu.
Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás, não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.
É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca.
É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

Clarice Lispector

Bethania - Poema do Menino Jesus - Fernando Pessoa





Poema Do Menino Jesus
Maria Bethânia
Composição: Fernando Pessoa

Num meio-dia de fim de primavera eu tive um sonho como
uma fotografia: eu vi Jesus Cristo descer à Terra.
Ele veio pela encosta de um monte, mas era outra vez
menino, a correr e a rolar-se pela erva
A arrancar flores para deitar fora, e a rir de modo a
ouvir-se de longe.
Ele tinha fugido do céu. Era nosso demais pra
fingir-se de Segunda pessoa da Trindade.
Um dia que DEUS estava dormindo e o Espírito Santo
andava a voar, Ele foi até a caixa dos milagres e
roubou três.
Com o primeiro Ele fez com que ninguém soubesse que
Ele tinha fugido; com o segundo Ele se criou
eternamente humano e menino; e com o terceiro Ele
criou um Cristo eternamente na cruz e deixou-o pregado
na cruz que há no céu e serve de modelo às outras.
Depois Ele fugiu para o Sol e desceu pelo primeiro
raio que apanhou.
Hoje Ele vive na minha aldeia, comigo. É uma criança
bonita, de riso natural.
Limpa o nariz com o braço direito, chapinha nas poças
d'água, colhe as flores, gosta delas, esquece.
Atira pedras aos burros, colhe as frutas nos pomares,
e foge a chorar e a gritar dos cães.
Só porque sabe que elas não gostam, e toda gente acha
graça, Ele corre atrás das raparigas que levam as
bilhas na cabeça e levanta-lhes a saia.
A mim, Ele me ensinou tudo. Ele me ensinou a olhar
para as coisas. Ele me aponta todas as cores que há
nas flores e me mostra como as pedras são engraçadas
quando a gente as tem na mão e olha devagar para
elas.
Damo-nos tão bem um com o outro na companhia de tudo
que nunca pensamos um no outro. Vivemos juntos os dois
com um acordo íntimo, como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer nós brincamos as cinco pedrinhas no
degrau da porta de casa. Graves, como convém a um DEUS
e a um poeta. Como se cada pedra fosse todo o Universo
e fosse por isso um perigo muito grande deixá-la cair
no chão.
Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos
homens. E Ele sorri, porque tudo é incrível. Ele ri
dos reis e dos que não são reis. E tem pena de ouvir
falar das guerras e dos comércios.
Depois Ele adormece e eu o levo no colo para dentro da
minha casa, deito-o na minha cama, despindo-o
lentamente, como seguindo um ritual todo humano e todo
materno até Ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma. Às vezes Ele acorda de
noite, brinca com meus sonhos. Vira uns de pena pro ar,
põe uns por cima dos outros, e bate palmas, sozinho,
sorrindo para os meus sonhos.
Quando eu morrer, Filhinho, seja eu a criança, o mais
pequeno, pega-me Tu ao colo, leva-me para dentro a Tua
casa. Deita-me na tua cama. Despe o meu ser, cansado e
humano. Conta-me histórias caso eu acorde para eu
tornar a adormecer, e dá-me sonhos Teus para eu
brincar.

Fernando Pessoa - Poema em linha reta






Poema em linha reta

Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Os versos acima, escritos com o heterônimo de Álvaro de Campos, foram extraídos do livro "Fernando Pessoa - Obra Poética", Cia. José Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 418.

MARIA BETHANIA - MONÓLOGO DE ORFEU - Tom Jobim e Vinícius de Moraes

Simplesmente assim...




Monólogo de Orfeu
Vinicius de Moraes
Composição: Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim

Mulher mais adorada!
Agora que não estás,
deixa que rompa o meu peito em soluços
Te enrustiste em minha vida,
e cada hora que passa
É mais por que te amar
a hora derrama o seu óleo de amor em mim, amada.

E sabes de uma coisa?
Cada vez que o sofrimento vem,
essa vontade de estar perto, se longe
ou estar mais perto se perto
Que é que eu sei?
Este sentir-se fraco,
o peito extravasado
o mel correndo,
essa incapacidade de me sentir mais eu, Orfeu;
Tudo isso que é bem capaz
de confundir o espírito de um homem.

Nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga,
esse contentamento, esse corpo
E me dizes essas coisas
que me dão essa força, esse orgulho de rei.

Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música.
Nunca fujas de mim.
Sem ti, sou nada.
Sou coisa sem razão, jogada, sou pedra rolada.
Orfeu menos Eurídice: coisa incompreensível!
A existência sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos.
Tu és a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo,
minha amiga mais querida!

Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura!
Quem poderia pensar que Orfeu,
Orfeu cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres -
que ele, Orfeu,
Ficasse assim rendido aos teus encantos?

Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho
que eu vou te seguindo no pensamento
e aqui me deixo rente quando voltares,
pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo

Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo.

domingo, dezembro 13, 2009

Oswaldo Montenegro - Metade

Se você tem sentimentos, vai adorar!!!!!!!

domingo, dezembro 06, 2009

Resposta ao Tempo - Nana Caymmi


Tempo... Tempo...
O Momento!!!







Resposta ao Tempo
Nana Caymmi
Composição: Aldir Blanc/Cristovão Bastos

Batidas na porta da frente
É o tempo
Eu bebo um pouquinho
Prá ter argumento

Mas fico sem jeito
Calado, ele ri
Ele zomba
Do quanto eu chorei
Porque sabe passar
E eu não sei

Num dia azul de verão
Sinto o vento
Há fôlhas no meu coração
É o tempo

Recordo um amor que perdi
Ele ri
Diz que somos iguais
Se eu notei
Pois não sabe ficar
E eu também não sei

E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos

Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto

E o tempo se rói
Com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Prá tentar reviver

No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer


A SUA / Marisa Monte

Música Perfeita
Dedico a você Cariño!!




A Sua
Marisa Monte
Composição: Marisa Monte
Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Agora e sempre mais
Eu só quero que você ouça
A canção que eu fiz pra dizer
Que eu te adoro cada vez mais
E que eu te quero sempre em paz

Tô com sintomas de saudade
Tô pensando em você
E como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

Eu só quero que você caiba
No meu colo
Porque eu te adoro cada vez mais
Eu só quero que você siga
Para onde quiser
Que eu não vou ficar muito atrás

Tô com sintomas de saudade
Tô pensando em você
E como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem
E que eu te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

terça-feira, dezembro 01, 2009

1º DE DEZEMBRO: DIA MUNDIAL DE LUTA CONTRA AIDS





O símbolo da luta contra a Aids é um fitinha vermelha retorcida, formando um pequeno “A”. A idéia partiu do grupo Visual Aids, de Nova York, em 1991. Um dos artistas do grupo sugeriu a criação de um símbolo único, de domínio público, que exprimisse a solidariedade em relação aos portadores do HIV. Nos EUA, as fitas amarelas já têm a conotação de dar as boas vindas aos soldados que voltam para casa. Trocou-se o amarelo pelo vermelho, além do desenho mais funcional.

Quando no início de 1991 o ator Jeremy Irons recebeu o prêmio “Tony Awards” com uma fita vermelha presa à camisa, o sucesso foi imediato e duradouro. Em 1992 nascia em Londres a Red Ribbon International, entidade não governamental responsável pelo controle dos usos (e abusos) do símbolo internacional de luta contra a Aids. A Red Ribbon não quer ver o símbolo sendo usado por quem não tem nada a ver com a luta contra a Aids.

Olhem essas duas campanhas contra a AIDS. São desenhos animados um dirigido ao público gay e outro aos heteros.