quinta-feira, maio 19, 2011

Defesa da Alegria

Defender a alegria como uma trincheira

defendê-la do escândalo e da rotina

da miséria e dos miseráveis

das ausências transitórias

e das definitivas

defender a alegria por princípio

defendê-la do pasmo e dos pesadelos

assim dos neutrais e dos neutrões

das infâmias doces

e dos graves diagnósticos

defender a alegria como bandeira

defendê-la do raio e da melancolia

dos ingénuos e também dos canalhas

da retórica e das paragens cardíacas

das endemias e das academias

defender a alegria como um destino

defendê-la do fogo e dos bombeiros

dos suicidas e homicidas

do descanso e do cansaço

e da obrigação de estar alegre

defender a alegria como uma certeza

defendê-la do óxido e da ronha

da famigerada patina do tempo

do relento e do oportunismo

ou dos proxenetas do riso

defender a alegria como um direito

defendê-la de deus e do Inverno

das maiúsculas e da morte

dos apelidos e dos lamentos

do azar

e também da alegria


 Mario Benedetti, Lugares mal situados