domingo, dezembro 26, 2010

Quando te vi senti um puro tremor de primavera

Quando te vi senti um puro tremor de primavera

e a voluptuosa brancura de um perfume

No meu sangue vogavam levemente

anénomas estrelas barcarolas

O siêncio que te envolvia era um grande disco branco

e o teu rosto solar tinha a bondade de um barco

e a pureza do trigo e de suaves açucenas

Quando descobri o teu seio de luminosa lua

e vi o teu ventre largamente branco

senti que nunca tinha beijado a claridade da terra

nem acariciara jamais uma guitarra redonda

Quando toquei a trémula andorinha do teu sexo

a adolescência do mundo foi um relâmpago no meu corpo

E quando me deitei a teu lado foi como se todo o universo

se tornasse numa voluptuosa arca de veludo

Tão lentamente pura e suavemente sumptuosa

foi a tua entrega que eu renasci inteiro como um anjo do sol

 
in «Antologia Poética», O Teu Rosto,

Dom QUixote, 2001 pág 341