terça-feira, setembro 21, 2010

A mulher perdigueira



A mulher perdigueira sofre um terrível preconceito no amor.
Como se fosse um crime desejar alguém com toda intensidade.
Ela não deveria confessar o que pensa ou exigir mais romance.
Tem que se controlar, fingir que não está incomodada,
mentir que não ficou machucada por alguma grosseria,
omitir que não viu a cantada do seu parceiro para outra.
Ela é vista como uma figura perigosa.
Não pode criar saudade das banalidades, extrapolar a cota de
telefonemas e perguntas. É condenada a se desculpar pelo excesso de cuidado.
Pedir perdão pelo ciúme, pelo descontrole, pela insistência de sua boca.
Exige-se que seja educada. Ora, só o morto é educado.
O homem inventou de discriminá-la. Em nome do futebol.
Para honrar a saída com os amigos. Para proteger suas manias.
Diz que não quer uma mulher o perseguindo. Que procura uma figura submissa
e controlada que não pegue no seu pé.
Eu quero. Quero uma mulher segurando meus dois pés.
Segurar os dois pés é carregar no colo.
Porque amar não é um vexame.
Escândalo mesmo é a indiferença.

Fabricio Carpinejar