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Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros." [Clarice Lispector]
sábado, maio 30, 2009
Documentário "Uma verdade inconveniente"
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End Game - O Plano para a Escravidão Global
Como poderão ver no documentário é essa gente que está por trás das Guerras, dos ataques terroristas e da miséria que reina soberana no planeta.
Parte II
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sexta-feira, maio 29, 2009
Estamos deixando de ser idiotas?
Nação idiota é aquela em que os alunos saem da escola sem aprender a ler e escrever direito. Não há civilidade democrática que se construa a partir disso. Nesse sentido, somos uma nação idiotizada --e vamos ser por muito tempo. Há, porém, motivos para celebração, como este plano anunciado pelo governo federal para estimular a formação do professor.
O que se pretende é aprimorar a seleção de professor , além de aumentar a oferta e melhorar a qualidade dos cursos de formação nas universidades. É algo que vai ao encontro do anúncio do governo de São Paulo de obrigatoriedade de um curso antes de o professor, já aprovado em concurso, passar mais um tempo estudando.
Estamos tocando na essência do nosso subdesenvolvimento: a baixa qualificação dos professores. Isso se deve a toda uma mobilização, crescente, da sociedade pelo ensino público. É o avanço político mais importante do país.
Ainda é apenas o começo. Mas a verdade é que todas essas ideias só vão mesmo funcionar quando pudermos atrair os talentos da sociedade para dentro da escola. Atrair significa a combinação de salário com reconhecimento social.
Atrair talentos significa que uma comunidade coloca em primeiro lugar a qualificação de todos os seus integrantes, e não apenas da elite. A novidade é que nossa elite econômica não só aceita como se mobiliza a favor desse princípio tão simples.
Por isso, que a tarefa de melhoria da educação só é comparável à abolição da escravatura.
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terça-feira, maio 26, 2009
Edith Piaf - biography
sexta-feira, maio 15, 2009
Quanto nós merecemos?
"Pessoalmente, acho que merecemos
muito: nascemos para ser bem mais
felizes do que somos, mas nossa cultura,
nossa sociedade, nossa família não
nos contaram essa história direito"
O ser humano é um animal que deu errado em várias coisas. A maioria das pessoas que conheço, se fizesse uma terapia, ainda que breve, haveria de viver melhor. Os problemas podiam continuar ali, mas elas aprenderiam a lidar com eles.
Sem querer fazer uma interpretação barata ou subir além do chinelo: como qualquer pessoa que tenha lido Freud e companhia, não raro penso nas rasteiras que o inconsciente nos passa e em quanto nos atrapalhamos por achar que merecemos pouco.
Pessoalmente, acho que merecemos muito: nascemos para ser bem mais felizes do que somos, mas nossa cultura, nossa sociedade, nossa família não nos contaram essa história direito. Fomos onerados com contos de ogros sobre culpa, dívida, deveres e... mais culpa.
Um psicanalista me disse um dia:
– Minha profissão ajuda as pessoas a manter a cabeça à tona d'água. Milagres ninguém faz.
Nessa tona das águas da vida, por cima da qual nossa cabeça espia – se não naufragamos de vez –, somos assediados por pensamentos nem sempre muito inteligentes ou positivos sobre nós mesmos.
As armadilhas do inconsciente, que é onde nosso pé derrapa, talvez nos façam vislumbrar nessa fenda obscura um letreiro que diz: "Eu não mereço ser feliz. Quem sou eu para estar bem, ter saúde, ter alguma segurança e alegria? Não mereço uma boa família, afetos razoavelmente seguros, felicidade em meio aos dissabores". Nada disso. Não nos ensinaram que "Deus faz sofrer a quem ama"?
Portanto, se algo começa a ir muito bem, possivelmente daremos um jeito de que desmorone – a não ser que tenhamos aprendido a nos valorizar.
Vivemos o efeito de muita raiva acumulada, muito mal-entendido nunca explicado, mágoas infantis, obrigações excessivas e imaginárias. Somos ofuscados pelo danoso mito da mãe santa e da esposa imaculada e do homem poderoso, pela miragem dos filhos mais que perfeitos, do patrão infalível e do governo sempre confiável. Sofremos sob o peso de quanto "devemos" a todas essas entidades inventadas, pois, afinal, por trás delas existe apenas gente, tão frágil quanto nós.
Esses fantasmas nos questionam, mãos na cintura, sobrancelhas iradas:
– Ué, você está quase se livrando das drogas, está quase conquistando a pessoa amada, está quase equilibrando sua relação com a família, está quase obtendo sucesso, vive com alguma tranqüilidade financeira... será que você merece? Veja lá!
Ouvindo isso, assustados réus, num ato nada falho tiramos o tapete de nós mesmos e damos um jeito de nos boicotar – coisa que aliás fazemos demais nesta curta vida. Escolhemos a droga em lugar da lucidez e da saúde; nos fechamos para os afetos em lugar de lhes abrir espaço; corremos atarantados em busca de mais dinheiro do que precisaríamos; se vamos bem em uma atividade, ficamos inquietos e queremos trocar; se uma relação floresce, viramos críticos mordazes ou traímos o outro, dando um jeito de podar carinho, confiança ou sensualidade.
Se a gente pudesse mudar um pouco essa perspectiva, e não encarar drogas, bebida em excesso, mentira, egoísmo e isolamento como "proibidos", mas como uma opção burra e destrutiva, quem sabe poderíamos escolher coisas que nos favorecessem. E não passar uma vida inteira afastando o que poderia nos dar alegria, prazer, conforto ou serenidade.
No conflitado e obscuro território do inconsciente, que o velho sábio Freud nos ensinaria a arejar e iluminar, ainda nos consideramos maus meninos e meninas, crianças malcomportadas que merecem castigo, privação, desperdício de vida. Bom, isso também somos nós: estranho animal que nasceu precisando urgente de conserto.
Alguém sabe o endereço de uma oficina boa, barata, perto de casa – ah, e que não lide com notas frias?
Lya Luft é escritora
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quinta-feira, maio 14, 2009
Nietzsche
Perigosa travessia, perigoso a-caminho, perigoso olhar pra trás, perigoso arrepiar-se e parar.
O que é grande no homem, é que ele é uma ponte e não um fim: o que pode ser amado no homem, é que ele é um passar e um sucumbir.
Amo Aqueles que não sabem viver a não ser como os que sucumbem, pois são os que atravessam.
Amo Aquele que vive para conhecer e que quer conhecer para que um dia o além-do-homem viva. E assim quer ele sucumbir.
Amo Aquele que não reserva uma gota de espírito para si, mas quer ser inteiro o espírito de sua virtude: assim ele passa como espírito por sobre a ponte.
Amo Aqueles que justifica os futuros e redime os passados: pois ele quer ir ao fundo pelos presentes.
Amo Aquele cuja alma é profunda também no ferimento, e que por um pequeno incidente pode ir ao fundo: assim ele passa de bom grado por sobre a ponte.
Amo Aquele cuja alma é repleta, de modo que ele esquece de si próprio, e todas as coisas estão nele: assim todas as coisas se tornam seu sucumbir.
Amo Aquele que é de espírito livre e coração livre: assim sua cabeça é
apenas a víscera de seu coração, mas seu coração o leva ao sucumbir.
Amo todos Aqueles que são como gotas pesadas caindo uma a uma da nuvem escura que pende sobre os homens: eles anunciam que o relâmpago vem, e vão ao fundo como anunciadores.
Vede, eu sou um anunciador do relâmpago, e uma gota pesada da nuvem: mas esse relâmpago se chama o além-do-homem."
trecho de Zaratustra - Nietzsche
Nietzsche: vida e obra
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POR QUE LER NIETZSCHE HOJE (Oswaldo Giacóia Junior)
Para ele, filosofar é um ato que se enraíza na vida e um exercício de liberdade. O compromisso com a autenticidade da reflexão exige vigilância crítica permanente, que denuncia como impostura qualquer forma de mistificação intelectual. Por isso, Nietzsche não poupou de exame nenhum de nossos mais acalentados artigos de fé. O destino da cultura, o futuro do ser humano na história, sempre foi sua obsessiva preocupação. Por causa dela, submeteu à crítica todos os domínios vitais de nossa civilização ocidental: científicos, éticos, religiosos e políticos.
Nietzsche é um dos grandes mestres da suspeita, que denuncia a moralidade e a política moderna como transformação vulgarizada de antigos valores metafísicos e religiosos, numa conjuração subterrânea que conduz ao amesquinhamento das condições nas quais se desenvolve a vida social. Nesse sentido, ele é um dos mais intransigentes críticos do nivelamento e da massificação da humanidade. Para ele, isso era uma conseqüência funesta da extensão global da sociedade civil burguesa, tal como esta se configurou a partir da Revolução Industrial.
Nietzsche se opõe à supressão das diferenças, à padronização de valores que, sob o pretexto de universalidade, encobre, de fato, a imposição totalitária de interesses particulares; por isso, ele é também um opositor da igualdade entendida como uniformidade. Assim, denunciou a transformação de pessoas em peças anônimas da engrenagem global de interesses e a manipulação de corações e mentes pelos grandes dispositivos formadores de opinião.
O esforço filosófico de Nietzsche o levou a se confrontar com as grandes correntes históricas responsáveis pela formação do Ocidente: a tradição pagã greco-romana e a judaico-cristã; e o que resultou da fusão entre as duas.
Ao longo desse seu confronto com o conjunto da herança cultural de nossa tradição, Nietzsche forjou conceitos e figuras do pensamento que até hoje impregnam nosso vocabulário e povoam nosso imaginário político e artístico. Tais são, por exemplo, as noções de Apolo e Dionísio, transformadas em categorias estéticas, os conceitos de vontade de poder, além-do-homem (Übermensch), eterno retorno e niilismo e a figura da morte de Deus.
É impossível se colocar à altura dos principais temas e questões de nosso tempo sem entender o pensamento de Nietzsche. Ateísta radical, ele atribui ao homem a tarefa de se reapropriar de sua essência e definir as metas de seu destino. Dele afirma o filósofo Martin Heidegger: "Nietzsche é o primeiro pensador que, perante a história universal pela primeira vez aflorada em seu conjunto, coloca a pergunta decisiva e a reflete internamente em toda a sua extensão metafísica. Essa pergunta reza: como homem, em sua essência até aqui, está o homem preparado para assumir o domínio da terra?"1
Nesse sentido, Nietzsche é o pensador de nossas angústias, que não poupou nenhuma certeza estabelecida --sobretudo as suas próprias convicções-- e desvendou os mais sinistros labirintos da alma moderna. Com a paixão que liga a vida ao pensamento, Nietzsche refletiu sobre todos os problemas cruciais da cultura moderna, sobre as perplexidades, os desafios, as vertigens no fim do século 19. Dessa sua condição, postado entre o final e o início de duas eras, Nietzsche esboçou um quadro que, em todos os seus matizes, nos concerne ainda, na passagem a um novo milênio, em direção a um destino que ainda não se pode discernir.
A despeito de sua visão sombria, Nietzsche tentou ser, ao mesmo tempo, um arauto de novas esperanças. Sua mensagem definitiva --a criação de novos valores, a instituição de novas metas para a aventura humana na história-- é também um cântico de alegria. Essa é uma das razões pelas quais o estilo de Nietzsche resulta da combinação paradoxal de elementos antagônicos: sombra e luz, agonia e êxtase, gravidade e leveza.
Isso explica por que, para ele, o riso e a paródia são operadores filosóficos inigualáveis: eles permitem reverter perspectivas fossilizadas. Nietzsche, o impiedoso crítico das crenças canônicas, é também um mestre da ironia. Sua ambição consiste em tornar superfície o que é profundidade, restituir a graça ao peso da seriedade filosófica.
Opositor ferrenho da dialética socrática, Nietzsche reedita, no mundo moderno, o gesto irônico do pai fundador da filosofia ocidental. Decisivo adversário de Platão, sua filosofia talvez possa ser caracterizada como uma inversão paródica do platonismo. Definindo-se como o mais intransigente anticristão, dá, no entanto, à sua autobiografia intelectual, escrita no final de sua vida, o título Ecce Homo ("Eis o Homem") --expressão empregada por Pilatos ao apresentar Jesus a seus algozes, pouco antes da Paixão.
Nietzsche, o filósofo-artista, um poeta que só acreditava numa filosofia que fosse expressão das vivências genuínas e pessoais, vendo na experiência estética uma espécie de êxtase e redenção, é, por isso mesmo, um precursor da crítica a um tipo de racionalidade meramente técnica, fria e planificadora. A despeito da profundidade e da gravidade das questões com que se ocupa, sempre as tratou em estilo artístico, poeticamente sugestivo; só acreditava na autenticidade de um pensamento que nos motivasse a dançar. Ele mesmo imagina sobre sua porta a inscrição:
Moro em minha própria casa
Nada imitei de ninguém
E ainda ri de todo mestre
Que não riu de si também.2
Sem extravasar os limites dos livros desta série, Folha Explica Nietzsche se propõe a ser uma apresentação geral do homem e do filósofo Friedrich Nietzsche. Seu objetivo é fazer com que o leitor se familiarize com os conceitos, as figuras e o estilo de Nietzsche --não para depois encerrá-los em qualquer câmara da memória, mas sim para despertar seu interesse e estimulá-lo a seguir adiante. Aceitar o desafio de Nietzsche implica, sobretudo, pensar independentemente; e por isso, às vezes, também contra Nietzsche.
1 Heidegger, "Wer ist Nietzsches Zarathustra?"; em: Vorträge und Aufsätze. Pfullingen: Neske Verlag, 1954; p. 102.
2 Epígrafe de A Gaia Ciência; em: Nietzsche, Obra Incompleta. Trad. Rubens Rodrigues Torres Filho. Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1974; p. 195.
"Nietzsche"
Autor: Oswaldo Giacóia Júnior
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terça-feira, maio 12, 2009
Entre o fazer e o faria ( Adelidia Chicarelli)
Entre o fazer e o faria,
fico com as borboletas,
com as flores.
Com as elegias.
E com Chopin, é claro.
Adelidia Chiarelli
domingo, maio 10, 2009
TULIPA
Esta flor lindíssima é originária da Turquia, mas se tornou popular na Holanda, onde inspirou muitos artistas. Era comum ouvir-se falar na tulipa negra, uma flor rara e preciosa. É muito usada na decoração, no Brasil, seja através de sua retratação em quadros e objetos ou em estampas de tecidos. Segundo uma lenda persa, uma moça chamada Ferhad apaixonou-se por um rapaz chamado Shirin. Vendo seu amor rejeitado, Ferhad fugiu para o deserto. Ao chorar de saudades e tristeza, cada uma de suas lágrimas, ao tocar a areia, transformou-se em uma linda tulipa.
Cecília Meireles: Depois do Carnaval
Depois do Carnaval
Terminado o Carnaval, eis que nos encontramos com os seus melancólicos despojos: pelas ruas desertas, os pavilhões, arquibancadas e passarelas são uns tristes esqueletos de madeira; oscilam no ar farrapos de ornamentos sem sentido, magros, amarelos e encarnados, batidos pelo vento, enrodilhados em suas cordas; torres coloridas, como desmesurados brinquedos, sustentam-se de pé, intrusas, anômalas, entre as árvores e os postes. Acabou-se o artifício, desmanchou-se a mágica, volta-se à realidade.
À chamada realidade. Pois, por detrás disto que aparentamos ser, leva cada um de nós a preocupação de um desejo oculto, de uma vocação ou de um capricho que apenas o Carnaval permite que se manifestem com toda a sua força, por um ano inteiro contida.
Somos um povo muito variado e mesmo contraditório: o que para alguns parecerá defeito é, para outros, encanto. Quem diria que tantas pessoas bem comportadas, e aparentemente elegantes e finas, alimentam, durante trezentos dias do ano, o modesto sonho de serem ursos, macacos, onças, gatos e outros bichos? Quem diria que há tantas vocações para índios e escravas gregas, neste país de letrados e de liberdade?
Por outro lado, neste chamado país subdesenvolvido, quem poderia imaginar que há tantos reis e imperadores, princesas das Mil e Uma Noites, soberanos fantásticos, banhados em esplendores que, se não são propriamente das minas de Golconda, resultam, afinal, mais caros: pois se as gemas verdadeiras têm valor por toda a vida, estas, de preço não desprezível, se destinam a durar somente algumas horas.
Neste país tão avançado e liberal — segundo dizem — há milhares de corações imperiais, milhares de sonhos profundamente comprimidos mas que explodem, no Carnaval, com suas anquinhas e casacas, cartolas e coroas, mantos roçagantes (espanejemos o adjetivo), cetros, luvas e outros acessórios.
Aliás, em matéria de reinados, vamos do Rei do Chumbo ao da Voz, passando pelo dos Cabritos e dos Parafusos: como se pode ver no catálogo telefônico. Temos impérios vários, príncipes, imperatrizes, princesas, em etiquetas de roupa e em rótulos de bebidas. É o nosso sonho de grandeza, a nossa compensação, a valorização que damos aos nossos próprios méritos…
Mas, agora que o Carnaval passou, que vamos fazer de tantos quilos de miçangas, de tantos olhos faraônicos, de tantas coroas superpostas, de tantas plumas, leques, sombrinhas…?
“Ved de quán poco valor
Son las cosas tras que andamos
Y corremos…”
dizia Jorge Manrique. E no século XV! E falando de coisas de verdade! Mas os homens gostam da ilusão. E já vão preparar o próximo Carnaval…
Texto extraído do livro “Quatro Vozes”, Editora Record - Rio de Janeiro, 1998, pág. 93.
sábado, maio 09, 2009
Por que é tão difícil amar a si mesmo? (Eunice Ferrari)
Eunice Ferrari
Aprendemos a nos relacionar socialmente a partir de uma série de regras e convenções que, na maioria das vezes, represa a natural expressão de nossos afetos. Mas aprendi com o passar dos anos que é impossível amar alguém ou mesmo amar a vida, sem antes nos amarmos.
Mas o que significa “amar a si mesmo”? Se você puder, pare para se observar durante um dia, apenas um dia, e perceba quantas vezes você se condena.
Acredito que durante aproximadamente dois mil anos, durante toda era cristã, temos construído uma forma destrutiva de se relacionar, começando pela relação que temos com nossos sentimentos, corpo e pensamentos. Criamos alguns vícios que hoje se tornaram prejudiciais para o nosso crescimento e evolução.
Hoje, neste momento planetário em que vivemos, eles não devem fazer mais sentido. Perceba quantas vezes você se condena durante um só dia. Você não acha que já foi condenada demais para continuar nessa toada?
Durante toda uma era de existência, temos aprendido a colocar o poder que nos pertence nas mãos dos outros: de nossos pais, do estado, da igreja, de nossos patrões, nossos amigos e muitas vezes até de pessoas que mal conhecemos. Mas o que significa dar poder ao outro? Muitas vezes acreditamos no que as pessoas dizem sobre nós, sem ao menos questionarmos suas idéias ou opiniões, sem dar a devida importância para o que verdadeiramente pensamos ou sentimos.
Temos todos vividos sob a espada da autocondenação. Mas se você passa seu dia condenando-se, como pode amar-se? Como poderá amar a vida se condena sua própria vida? E pior do que tudo, como poderá amar alguém, se não ama a si mesmo?
Osho nos diz que nunca poderemos nos tornar parte do todo sem ao menos ter respeito pelo Deus que vive dentro de nós. Como poderemos nos amar verdadeiramente se nem ao menos temos consciência de que somos um veículo de Deus? Você já parou para pensar nisso?
Muitas linhas esotéricas costumam falar sobre o Deus dentro de nós, o sagrado que existe em nossos corações, mas na verdade para muitas pessoas tudo isso não passa de palavras. A maioria não consegue nem ao menos contatar essa energia de amor que deveria fluir naturalmente no coração de todos nós.
Mas como isso é possível se passo meu dia me destruindo, me condenado? Como posso me amar se ainda hoje me considero um pecador?
Pare e reflita: o que significa amar a mim mesmo? Como seria isso em minha vida? O que eu posso fazer para mudar totalmente minha concepção a respeito de mim mesmo?
Não tenha medo de amar a si mesmo. Ame-se totalmente. Liberte-se da autocondenação e da falta de respeito que sente por você. Pare de se punir por coisas que os outros disseram sobre você. Reaproprie-se de seu poder. Trabalhe e construa-se apenas em cima da ética, do respeito, do amor, primeiro a si mesmo, depois aos outros e à vida.
Somos seres de luz e de glória, vivemos banhados em nossa própria luz. Nós somos o maior milagre do Deus que existe dentro e fora de nós. Muitas pessoas me procuram querendo aprender a meditar, mas medita apenas aquele que ama a si mesmo, aquele que pode entrar em contato consigo mesmo sem julgamentos, sem condenações.
Quando aprendermos verdadeiramente o amor a nós mesmos, poderemos amar tudo e todos e isso pode transformar toda vida neste planeta. No entanto, enquanto você não trouxer todo lixo ancestral à consciência, não poderá limpar-se da autocondenação imposta pela perda de seu poder. Mas para isso é preciso enfrentar-se, ou seja, olhar-se de frente. Sem esse enfrentamento não poderemos nos amar.
Tudo isso o Buda e Jesus Cristo nos disseram há milhares de anos e somente quando pudermos entender suas palavras, poderemos nos olhar de frente e definitivamente “amar os outros como a nós mesmos”.
sexta-feira, maio 08, 2009
Free Hugs
“Há um ano Juan Mann era apenas um homem desconhecido, que ficava parado no Pitt Street Mall, em Sydney, Austrália, oferecendo abraços de graça para as pessoas que passavam pelas ruas. Um certo dia, Mann ofereceu um abraço a Shimon Moore, líder da banda Sick Puppies e, desde então, se tornaram bons amigos. Moore decidiu gravar Mann fazendo sua campanha por abraços grátis.
À medida que o FREE HUGS atingiu proporções maiores, o conselho da cidade tentou banir a campanha. Então, Mann e seus amigos fizeram uma petição com mais de 10.000 nomes apoiando a campanha.
Quando a avó de Mann morreu, Moore decidiu mixar o vídeo que tinha feito do FREE HUGS com a música All the Same, que havia gravado com a sua banda.
Vale a pena conferir o vídeo.
Algumas vezes, um abraço é tudo o que precisamos.”
FREE HUGS se tornou um movimento mundial.
Das Mentes Flexibilizadas (Ponto de bifurcação), artigo de Lucia Maria Paleari
JC e-mail 3367, de 10 de Outubro de 2007.
33. Das Mentes Flexibilizadas (Ponto de bifurcação), artigo de Lucia Maria Paleari
“Vivemos tempos de assombro, de arbitrariedades, de imoralidades em todos os segmentos sociais. Em cada qual, características peculiares e diferentes graus de sofisticação comportamental, mas que traduzem uma só realidade: perdemos a dignidade humana e sucumbimos à corrupção, ao individualismo, à hipocrisia.
São estas ferramentas e armas do cotidiano, que fazem flamejar aviões mergulhados nos gritos desesperados de 199 vítimas conhecidas. São essas mesmas ferramentas e armas do cotidiano, que fazem flamejar o índio que repousa ao relento. São essas mesmas ferramentas e armas do cotidiano, que fazem flamejar o coração dos excluídos.
O Homo demens economicus racionaliza, se justifica e segue na empreitada de investimentos contra a vida, amparado pela consciência flexibilizada que lhe garante, senão o perdão, vista grossa à falta de observância das responsabilidades, dos imprescindíveis limites e cumprimento de normas, indispensáveis à boa saúde social.
Consciência flexibilizada que em lugar das penas cabíveis respalda as transgressões e insanidade, por meio de equivalente despudor e imoralidade, atitude que serve como alento nos, talvez raros, possíveis lampejos de decência e desassossego, que a solidão tem por capricho despertar.
Hoje, a virtude confunde-se com o mal, e a retidão de caráter e a sinceridade, ameaçam. Exercita-se o pacto do biltre: cada um por si e todos pela derrocada humana e do planeta.
As cenas se multiplicam, diversificam e traduzem sempre a mesma realidade cruel. Como cruéis, perversos, foram os rapazes desocupados e inúteis, que perambulando de carro pela madrugada à procura do nada, se depararam com uma mulher.
Imagem inversa, reversa, o avesso desses covardes, até então desconhecidos, que a agrediram. Segundo um dos pais dos agressores, “crianças que fazem faculdade” e que, por isso, não deveriam sequer ficar detidas em uma delegacia. Essas “crianças”, com palavras e atitudes nada ingênuas, demonstraram ter incorporado os padrões de conduta de quem usa do dinheiro farto para garantir a impunidade.”
Trecho do artigo escrito pela Profa. Dra. Lucia Maria Paleari, professora do
Departamento de Educação do Instituto de Biociências da Unesp - Botucatu
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quinta-feira, maio 07, 2009
Lispector
Clarice Lispector
"Essa incapacidade de atingir, de entender, é que faz com que eu, por instinto de... de quê? procure um modo de falar que me leve mais depressa ao entendimento. Esse modo, esse "estilo" (!), já foi chamado de várias coisas, mas não do que realmente e apenas é: uma procura humilde. Nunca tive um só problema de expressão, meu problema é muito mais grave: é o de concepção. Quando falo em "humildade" refiro-me à humildade no sentido cristão (como ideal a poder ser alcançado ou não); refiro-me à humildade que vem da plena consciência de se ser realmente incapaz. E refiro-me à humildade como técnica. Virgem Maria, até eu mesma me assustei com minha falta de pudor; mas é que não é. Humildade com técnica é o seguinte: só se aproximando com humildade da coisa é que ela não escapa totalmente. Descobri este tipo de humildade, o que não deixa de ser uma forma engraçada de orgulho. Orgulho não é pecado, pelo menos não grave: orgulho é coisa infantil em que se cai como se cai em gulodice. Só que orgulho tem a enorme desvantagem de ser um erro grave, com todo o atraso que erro dá à vida, faz perder muito tempo".
Texto extraído do livro "A Descoberta do Mundo", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1999.
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Clarice Lispector (1977) / Sobre a "Hora da Estrela"
Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV
Sobre “A Hora da Estrela”
Parte V
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quarta-feira, maio 06, 2009
Ensinar a pensar (Dulce Critelli)
Quando se trata, então, da filosofia, esse deboche vai ainda mais longe, afirmando que todo pensador não tem pé na realidade e vive numa torre de marfim.
É certo que o tempo da reflexão conflita com a urgência do agir. Mas, nem sempre todo agir é assim urgente e, na maioria da vezes, parar para pensar nos salva de decisões equivocadas e prejudiciais. Pensar a respeito de alguma coisa ou de algum acontecimento, é compreender os seus verdadeiros sentidos e significados.
Um artigo publicado na Folha no dia 1º de outubro deste ano comentava o Saeb, exame federal de avaliação da aprendizagem de alunos do último ano do ensino médio. Mal alfabetizados, esses adolescentes, nas palavras do jornalista, “não conseguem, por exemplo, compreender o efeito de humor provocado por ambigüidade de palavras ou reconhecer diferentes opiniões em um mesmo texto”.
Quem não sabe ler, não sabe distinguir, nem rir de fato, nem pensar. É presa fácil de mistificações e sujeições, obediente a tudo o que causar a impressão mais forte.
O pensar, diz Sócrates, “abre os olhos do espírito”. E isto quer dizer que a reflexão explicita mal-entendidos, desvela segundas intenções, percebe mentiras, desautoriza preconceitos, descobre manipulações… Em decorrência, sentimo-nos capacitados para escolher, dizer não, colocar limites, mudar a ordem das coisas, redefinir destinos, desarticular dominações…
Em outras palavras, o pensar prepara nossa liberdade e nossa autonomia tanto quanto nos faz reconhecer as responsabilidades que nos cabem nas situações vividas.
Liberdade e autonomia, convenhamos, não são comportamentos muito bem-vindos na esfera político-social, porque ameaçam o poder vigente.
E na esfera da vida privada, a responsabilidade é, na maioria das vezes, temida e recusada pelas pessoas, porque cria encargos e compromissos.
Liberdade, autonomia, responsabilidade?… O pensar põe em perigo. E, em grande parte, por isso mesmo, ele é estrategicamente convertido em objeto de escárnio.
Ensinar a pensar. É esse o único projeto que poderia nos tirar do atoleiro de pobreza, de violência, de impotência em que vivemos. É um projeto cuja origem não está em nenhuma economia, nem ideologia ou política oficial. Não precisa de equipamentos especiais, nem depende da criação de uma secretaria do pensamento. É só uma atitude. Ensinar a pensar, aprender a pensar.
SOBRE DULCE CRITELLI:
É articulista da Folha Equilíbrio do jornal Folha de São Paulo e terapeuta existencial. Coordena o “Existentia – Centro de Orientação e Estudos da Condição Humana”, que fundou em 2002, e tem como perspectiva o uso da filosofia como uma ferramenta essencial para o auto-conhecimento e o desenvolvimento pessoal de indivíduos e organizações. Ali oferece serviços de orientação profissional, aconselhamento, cursos, palestras, oficinas e desenvolve programas especiais para empresas.
Na PUC-SP exerceu cargos acadêmico-administrativos, entre os quais, o de Coordenadora do Curso de Graduação em Filosofia, Chefia de Gabinete da Reitoria, Coordenadora da Assessoria de Comunicação Institucional, Presidente da Comissão de Ética em Pesquisa. Foi membro representante eleito em diversas oportunidades para os Conselhos da Universidade, entre eles, o de Administração e Finanças e o de Ensino e Pesquisa.
Em 1991, foi Supervisora Geral de Comunicação da Secretaria das Administrações Regionais da Prefeitura do Município de São Paulo.
Elaborou uma metodologia para pesquisa de campo fundada na filosofia existencial, que tem sido utilizada em programas de pós-graduação do país.
Publicou os livros “Educação e Dominação Cultural” (Cortez, 1981); "Todos nós... Ninguém” (Moraes, 1981); e “Analítica do Sentido” (Educ/Brasiliense, 1996), além de artigos em vários livros e revistas.
Trabalha temas relativos à qualidade de vida, ética, meio ambiente, responsabilidade social e existencial, produção e gestão do conhecimento, filosofia, psicologia e educação.
Fonte do texto :
Publicado na coluna “Outras Idéias” , Folha Equilíbrio,“Folha de São Paulo”, de 25 de outubro de 2007
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Milton Santos - O mundo global visto pelo lado de cá
Prêmio de Melhor Filme do Júri Popular no Festival de Brasília, em 2006,
Milton Santos - O mundo global visto pelo lado de cá,
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domingo, maio 03, 2009
Sobre estar sozinho
sobre estar sozinho-
(Flávio Gicovate, médico psicoterapeuta)
O que se busca hoje é uma relação compátivel com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar juntos e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar. A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo está fadada a desaparecer neste início de século.
O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, hostoricamente, tem atingido mais a mulher.
Ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei.
Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal.
A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras.
O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.
O homem é um aimal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou.
Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísmo não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.
A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa à aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades.
E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o ondivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso.Ao contrário, dá dignidade à pessoa.