sexta-feira, janeiro 07, 2011

Sugar e ser sugado pelo amor

Sugar e ser sugado pelo amor

no mesmo instante boca milvalente

o corpo dois em um gozo pleno

que não pertence a mim nem te pertence

um gozo de fusão difusa transfusão

o lamber o chupar o ser chupado

no mesmo espasmo

é tudo boca boca boca boca

sessenta e nove vezes boquilíngua.
 


Você meu mundo meu relógio de não marcar horas

Você meu mundo meu relógio de não marcar horas; de esquecê-las. Você

meu andar meu ar meu comer meu descomer. Minha paz de espadas

acesas. Meu sono festival meu acordar entre girândolas. Meu banho

quente morno frio quente pelando. Minha pele total. Minhas unhas afiadas

aceradas acidulas. Meu sabor de veneno. Minhas cartas marcadas que se

desmarcam e voam. Meu suplício. Minha mansa onça pintada pulando.

Minha saliva minha língua passeadeira possessiva meu esfregar de barriga

em barriga. Meu perder-me entre pêlos algas águas ardências. Meu pênis

submerso. Túnel cova cova cova cada vez mais funda estreita mais mais.

Meu gemidos gritos uivos guais guinchos miados ofegos ah oh ai ui nhem

ahah minha evaporação meu suicídio gozoso glorioso.
 
Carlos Drummond de Andrade