… “Certa vez uma criança arrebatou o melhor de mim. Eu viajava e me encontrava diante de uma encruzilhada. Vi então um menino e lhe perguntei qual seria o caminho para a cidade. Ele respondeu: ‘ Este é o caminho curto e longo e este o longo e curto.’ Tomei o curto e longo e logo me deparei com obstáculos intransponíveis de jardins e pomares. Ao retornar, reclamei: ‘Meu filho, você não me disse que era o caminho curto?’ O menino então respondeu: ‘Porém lhe disse que era longo!’ ”
Na trilha da sobrevivência, a “mesmice” muitas vezes é o caminho curto, o mais simples, e que tem os custos mais elevados (longo). Ir pelo caminho mais simples e mais curto é uma lei evolucionista. Certamente os corpos se movem na direção mais imediata e curta. Os galhos buscam a luz e o animal a água, mas sua inteligência interna, sua alma, está atenta a longas modificações. A tentativa de sobrevivência acontece nos campos de batalha do mundo curto e do mundo longo. As chances de extinção dos que percorrem caminhos curtos que são longos é muito grande. As espécies sobreviventes são aquelas que souberam fazer opções pelo longo caminho curto.
Em nosso dia-a-dia sabemos muito bem quais são os processos curtos e quais são os longos. Fazemos também nossas opções por padrões que optam pelo curto. Mas nossos mecanismos de dectar se são “curtos longos” ou “longos curtos” existem e sempre estão aí para apontar novos inícios, por exemplo, de relações de trabalho, amor ou amizade.
A coragem está em ouvir o menino das encruzilhadas. Ele, com certeza, alerta para ambas as possibilidades de caminho. Este menino das encruzilhadas é a alma. Não se assuste com as parábolas que falam de demônios dissimulados nas encruzilhadas. Os demônios das encruzilhadas querem sempre apontar os caminhos mais “curtos”. Ninguém que alerte para o fato de que os “curtos podem ser longos” e os “longos podem ser curtos” é de ordem demoníaca.
Afinal, as encruzilhadas são de grande importância. Não são meras opções de acesso, mas de sobrevivência, e o curto caminho longo pode não levar a lugar algum. Se você estiver diante de uma encruzilhada, lembre-se do menino e preste atenção para não ser seduzido, pelo corpo, por um caminho curto. Lembre-se de que a paz está primeiro com quem vem de longe.
Extraído de:
Bonder, Nilton
A alma imoral:traição e tradição através dos tempos
/ Nilton Bonder - Rio de Janeiro: Rocco: 1998. páginas 56 e 57