Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros." [Clarice Lispector]
quinta-feira, abril 29, 2010
domingo, abril 25, 2010
A Tragédia da Vida / W. H. Lewis
Minha desgraça / Álvares de Azevedo
Nem na terra de amor não ter um eco,
E meu anjo de Deus, o meu planeta
Tratar-me como se trata um boneco...
Não é andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro...
Eu sei... o mundo é um lodaçal perdido
Cujo o sol ( quem mo dera!) é o dinheiro...
Minha desgraça, ô cândida donzela,
O que faz que o meu peito blasfema
É ter para escrever todo um poema
E não ter nenhum vintém para uma vela.
Pra quem nunca esteve no teatro mágico…
O que vai acontecer agora é algo muito simples;
A gente vai falar daquilo que é obvio;
E o obvio muitas vezes deixa de ser obvio e explicito para muitas pessoas diariamente;
A poesia que passa por nos despercebida;
A coragem que nos falta em determinado momento;
A palavra que nos falta na hora exata;
O gesto que eu deixei pra ontem e hoje não me cabe mais;
Ontem já passou… acabou;
Daqui a pouco não existe ainda;
Daqui 15 minutos não existe ainda;
A gente só tem agora pra olhar no olho;
Pra reclamar;
Pra conversar;
Pra falar: “olha era pra ter respeitado ficado de pé ficado sentado blá blá”;
E depois logo em seguida reconhecer a gente só tem agora pra SER e ESTAR essa é nossa unica oportunidade;
Eu não sei quantas são as pessoas e para quais são as pessoas ao qual a gente poderia falar isso;
E muita gente não nem esta aqui hoje e que gostaria de ouvir isso;
De você e talvez você nem saiba o quanto é importante uma palavra tua pra alguém;
E isso pode parecer a coisa mais obvia e brega do mundo;
Mais não é!
Por isso, com muito carinho toda a trupe apresenta pra vocês…
- Só Enquanto eu respirar, vou me lembra de você, Só Enquanto eu respirar -
Fernando Anitelli - O Teatro Mágico
quinta-feira, abril 22, 2010
Despedida, Rubem Braga
E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais.
Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil. Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.
(Extraído do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.)
Uma Abordagem Ética à Proteção Ambiental
A paz e a vida na Terra estão ameaçadas por atividades humanas não compromissadas com valores humanitários. A destruição da natureza e seus recursos é resultado da ignorância, da cobiça e da falta de respeito pelos seres vivos, incluindo nossos próprios descendentes. As gerações futuras herdarão um planeta extremamente degradado, caso a paz mundial não se efetive e a destruição da natureza continue nesse ritmo.
Nossos ancestrais viam a Terra como rica e generosa, o que ela realmente é. Muita gente no passado também via a natureza como inexaurivelmente sustentável. Está comprovado que caso cuidemos bem da Terra, ela pode ser efetivamente uma fonte inesgotável de recursos.
Não é difícil perdoar a destruição causada à Terra no passado, fruto da ignorância. Hoje, contudo, temos fácil acesso a todo o tipo de informação e é essencial que examinemos eticamente o que herdamos, quais são nossas responsabilidades e o que passaremos para as gerações vindouras. Muitas dessas gerações poderão não conhecer habitats, animais, plantas, insetos e microorganismos da Terra. Temos a capacidade e a obrigação de agir e devemos fazê-lo antes que seja tarde demais. O mesmo cuidado que temos em cultivar relações pacíficas com nossos semelhantes, deve ser estendido ao meio ambiente.
E não apenas por uma questão moral ou ética, mas pela nossa própria sobrevivência. Para a geração presente e para as futuras, o meio ambiente é fundamental. Se o explorarmos exaustivamente, podemos receber algum benefício hoje, mas, a longo prazo, sofreremos as conseqüências. Quando o meio ambiente se altera, as condições climáticas também se alteram e, por conseguinte, nossa saúde está sendo muito afetada. Repetindo, a conservação não é meramente uma questão moral, mas sim da nossa própria sobrevivência.
Portanto, para conseguirmos proteção e conservação ambiental mais eficazes, é essencial que o ser humano desenvolva um equilíbrio interno. O desconhecimento em relação à importância da preservação do meio ambiente causou graves danos à humanidade. Precisamos agora ajudar as pessoas a compreenderem a necessidade urgente da proteção ambiental para a nossa sobrevivência.
Se você quer ser egoísta, então seja sábio e não mesquinho em seu egoísmo. A chave está no nosso senso de responsabilidade universal. Essa é a verdadeira fonte de luz, a verdadeira fonte de felicidade. Se esgotarmos tudo o que estiver disponível na Natureza, como árvores, água e sais minerais, e não fizermos um planejamento adequado para as próximas gerações, para o futuro, certamente estaremos em falta. Entretanto, se tivermos um verdadeiro senso de responsabilidade universal como força motriz, nossa relação com o meio ambiente e com nossos vizinhos serão bem mais equilibradas.
Por último, a decisão de salvar o meio ambiente deve brotar do coração do homem. Clamemos a todos para que desenvolvam um senso de responsabilidade universal fundamentado no amor, na compaixão e na clareza de consciência.
(Texto extraído da obra A Policy of Kindness, Snow Lion Publications, 1990.)
Página fonte: Dalai Lama
terça-feira, abril 20, 2010
segunda-feira, abril 19, 2010
O Guardador de Rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Autor: Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)
Fonte: Obra Poética e em Prosa
Ed. António Quadros. Porto, Lello & Irmão, 1986